terça-feira, 16 de outubro de 2012

BALAIO DE POESIAS



Algumas poesias são como preces: cheias de fé, nascem do coração e serenam a alma.
Se, como diz Santo Agostinho, a prece é filha primogênita da fé, donde nascem os poemas de outra estirpe?

Efervescentes palavras que são como dois socos no estomago.
Nebulosa sequência de imagens que são como um sonho surreal.
Lúdico irrequieto que bole com as palavras para bulir com os nós da razão.
Parcimoniosos versos que parecem ter escapado de mãos avarentas.
Despretensiosas falas que nos causam alaridos de pássaros, repicar de sinos, estrabismo de emoção:
“procuro sempre assoprar as cinzas das pessoas para reavivar suas chamas”.
Pessoa que fala coisas assim é a Poesia em pessoa.

         Bandeira branca, poesia.
         Tudo fica vizinho de ti.  

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A UNIÃO EUROPÉIA E O NOBEL DA PAZ



Tenho mais esperanças na União Europeia do que na amizade de dois moleques, cujos pais são, um deles, Corintiano e o outro um deles, Palmeirense.
Deve ser porque tenho esperanças de um dia saber em outra dimensão que o nosso planeta virou um Estado Mundial.
Fazendo as contas, de 1972 – quando países europeus assinaram o Livro Branco, pacto regulamentador da indústria pesqueira – até 2002 – quando nasceu Euro, a moeda – foram 30 anos de perseverante luta para dar um primeiro e grande passão em direção à Utopia.  E depois foram quase 10 anos de santa paz e tranquilidade, com a moeda forte comprando a alegria dos europeus. 
Uns dizem que é porque os europeus não acataram o Feng Shui Chinês na hora de construir a linha de montagem dos produtos.   Outros dizem que é porque a nobreza fica brigando por causa de umas fotozinhas topless em vez de ver se o povo precisa de bolo no lugar do pão que anda faltando. Tem também aqueles que  esquecem de dar a césar o que é de césar, tão preocupados estão com as coisas do além. Ok, ao menos estes últimos tem um bordão: quem ama divide.
As grandes transformações da humanidade aconteceram em meio a conflitos armados – das espadas de bronze às bombas H.
A onda de protestos que se espalha pelo mundo desenvolvido é um desesperado “prestem atenção!”.
 Ficamos sabendo durante o Occupy Wall Street: 1% dos EUA detém 90% da riqueza daquele país. Não sei de estatísticas europeias, mas chega uma hora em que é preciso levar a sério aquele bordão: quem ama reparte. 
O Nobel da Paz é um incentivo.
No FlaFlu da vida ceder pelo outro é uma alegria tão grande quanto ganhar de goleada.

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SOBRE LUZES E SOMBRAS



Notícias ruins chegam em profusão. Banalizaram-se e já nem causam tanto impacto.
Bebeu, espancou e matou.
Pariu e abandonou na caçamba de lixo.
Roubou o dinheiro do auxílio aos desabrigados.
Primeira mulher bomba mata...a crise econômica na Grécia atingiu...piratas do asfalto renderam o motorista da...teve a orelha cortada por sequestradores... A lista é interminável e chega a ficar enfadonha. O que prova o seguinte: somos capazes de nos acostumar até com o gosto do chucrute, o cheiro de brócolis podre ou até mesmo com o som da fé na humanidade despencando do décimo andar.
Mas no País do Brócolis, que nunca conheceu as delícias de um Filé à Fiorentina, cultivam aquela erva crucífera há milênios sem o menor ranço de nojo. Pobres! Se ninguém os apresentou a uma bela salada vegetariana regada a grossos fios de azeite extra virgem, como vão saber que aquilo, cruz credo, é ruim à beça, é coisa das trevas?
Como saberíamos que as notícias são ruins se não soubéssemos das coisas que são boas?
Só vemos as sombras porque as luzes ganharam terreno.
Porque nossos corações estão iluminados. 

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“O FIM DA INFÂNCIA”



Já na primavera de nossas vidas – que é a infância – percebemos que a vida não é sopa.  Às vezes é leite; às vezes é papa também.
Depois – depois de nos induzirem a pensar que somos o centro do universo naquele berço esplêndido, onde avós, tias-avós, vizinhas e tias de distante parentesco nos deitam babas e olhares maravilhados – começam  a fazer perguntas: “Tá pensando o quê?” “Quem você pensa que é; o rei da cocada preta?”
A maior decepção acontece quando a Mecânica Celeste deixa muito claro que não somos o centro do universo, mas mísera poeirinha na periferia do mundo.
O golpe de misericórdia vem a prestações, naqueles papos de pai para filho, cujo stress é um tema recorrente: “Até quando acha que vamos resolver os teus problemas, filho?” “Não tá não na hora de assumir tua vida?” “Tuas escolhas tem consequências, já pensou que precisa assumi-las?”
Blábláblá que anuncia o fim da infância. Sem tonitruantes ribombares nem lampejos celestes, mas um ”Deus nos acuda!”. Afinal sempre houve uma sutil promessa, a esperança num pai maior, um Deus que de nós cuida.
Verão vai, Outono vem e, para além das promessas e esperanças, a grande certeza: a vida não é sopa.
Vários endereços, cardápios variados, a mesma epígrafe – a vida não é sopa.
Da promessa entendemos tudo errado.
Deus não mete o bedelho nas nossas vidas.
Somos todos um e para todos Ele diz: tuas escolhas tem consequências, já pensou que precisa assumi-las?
         Quando o Verão maduro com seus frutos coloridos?
Quando o Fim da Infância da Humanidade? 



PS: “O fim da infância” é o título de um dos primeiros romances de Arthur C. Clarke, o mestre da ficção científica. 
A Editora Aleph lançou uma reedição em 2010.  Recomendo.

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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

POESIA POR DOIS BEBÊS E UMA COLEIRA

Vi três mulheres jovens caminhando pela calçada.
Duas delas empurravam calmamente seus carrinhos de bebê.
A terceira quase corria,
indo e vindo ao trote inquieto do seu cãozinho. 

Três mamães, uma cena urbana.
E o estranhamento.
Alguns chamam espanto; outros, de insight.
Que seja! Inspiração.
Depois do hiato cheio de fragoroso silêncio,
a poesia chega e o pensamento ganha asas.
Coração. Velocidade.
E emite flashes. Profecias.
Homens versus animais domésticos, disputando comida.
Meu tio pensava como Jacques Cousteau.
Estão mortos neste sábado nublado.
Lições de maternidade.
O mistério dos sapatinhos pequeninos.
De novo, esparadrapo no joelho!
Brócolis. Ervilhas. Espinha de peixe.
Qual o seu problema?
Fora de época não frutifica.
Sem a luz da razão o amor vira obsessão.
Morrer sem fé. Atrasar-se para o encontro.
Nunca é cedo; nunca é tarde.
Nascimento. Puberdade. Maturidade.
Velhice. Morte. Se perder hora, saiba:
a humanidade espera o indivíduo.


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