segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A TERAPEUTA


Terapia é um tratamento da alma.
Eu faço porque dentro de mim tem um ringue de vale tudo. Nele comparecem duas velhas senhoras para lutar. 
A Tristeza, que se veste de preto e entra no ringue, desafiadora, mostrando os punhos fechados ou, dedo em riste, provocando o velho e crítico Juiz. Nos melhores dias, chega de cinza, assim, meio chumbo, fula da vida e, com cara de maracujá murcho, ignora a ignara massa, mas se digna a fulminar o Juiz com seu olhar treisoitão.
A Alegria, ah, a Alegria, em plumas e lantejoulas, chega saltitante, abraça o Juiz efusivamente e joga beijinhos para a plateia, antecipando quimérica vitória. Nos piores dias, chega toda de branco, faz poses de princesa e age como uma rainha, acenando para a plebe, agitando os dedinhos lá do alto de sua realeza.
As lutas acontecem quase todo dia, geralmente sem agendamento prévio. 
A terapia? Só uma vez por semana, dia e hora marcadas, mas nunca se sabe quem comparecerá para a entrevista: se Alegria ou Tristeza, dependendo da luta do dia anterior.
A Terapeuta fica esperta. Prepara a recepção com pétalas de rosas disfarçadas de luvas de pelica e mantas quentinhas disfarçadas de lenços de papel. Confessa que, no fundo, curte a expectativa, pois cada uma das duas velhas senhoras conhece golpes e artimanhas do vale tudo de tirar o chapéu.
Abre a porta com um sorriso escancarado e um olhar de lince a perscrutar os pigmentos que cobrem a velha senhora. Ou as luzes que a envolvem.
Abre o leque de cores e explica sobre as vantagens e desvantagens de cada oponente: a Tristeza tem todas as cores do mundo, mas nenhuma luz; a Alegria tem a máxima graduação de luz, mas nenhuma cor.
Tanta cor sem poder brilhar; tanta luz sem aproveitar as cores da vida! . Não será melhor a meia luz; a cor do meio? O equilíbrio?
As velhas senhoras se entreolharam da última vez, cada qual em seu corner:  “Muhummmm...e isto se daria no meio do ringue?”
Diz a Terapeuta: o desequilíbrio é criativo e bom para o escritor, mas o equilíbrio é melhor ainda. Que tal um empate em vez de embate? 
E, marota, jogou uma última bomba: queres escrever igual a quem?
O gongo soou bem na hora em que a pergunta atingiu os estômagos das velhas senhoras – “Empate? Eu, hein?!”.
Elas saíram do ringue olhando por cima do ombro, com medo de ter perdido a luta, as cores, as luzes, alguma coisa.
Na verdade tinham perdido a última pergunta, disfarçada de papo trivial.
O Juiz anunciou a vencedora da luta, levantando o braço da Terapeuta. O ginásio veio abaixo, tamanha a força da vaia do público que não concordou com a vitória da Terapeuta de riso franco.
 Esse Juiz sabe das coisas: enquanto as velhas senhoras faziam as pazes no quintal ensolarado dentro de mim, grandes escritores idolatrados saíram das luzes e sombras de mim. Piscaram e armaram um circo. Sombrinhas coloridas em punho brincaram de se equilibrar na corda bamba da criação.
Preciso dizer que me diverti às pampas com eles?


22-setembro-2012.
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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

2000 DC.- UM MUNDO CADA VEZ MELHOR- POST1





0.
O mundo está próximo do caos.   
A civilização parece desmoronar.
Como, afinal, chegamos a isso? E por quê?
            Sou uma cidadã do mundo. Achei que isso bastasse para entender as causas dos seculares acontecimentos históricos e prever os seus desdobramentos. Achei que um olhar panorâmico, amoroso e isento, bastasse para uma análise certeira do processo evolutivo do mundo e da humanidade.
Não bastam.
É preciso também ser cidadã do universo interdimensional para compreender um primordial propósito divino nas dores e aflições que nos assolam desde tempos pré-históricos: a evolução pelo aprendizado.
Aprendizado: eis o propósito de nossas existências.
            As muitas variedades de aprendizagem: eis a nossa perdição.




1.
            Independentemente de raça, cultura, nacionalidade, religião, sexo e preferências sexuais, quase todos os atuais 7 bilhões da população mundial são materialistas científicos racionais.
            Materialismo, Ciência e Razão: um tripé instável por falta de um quarto apoio; um coquetel enganoso, viciante e desequilibrado como receita de vida. Proporciona uma satisfação efêmera, que induz à angústia de desejá-la permanente. A ansiedade vira busca frenética. O frenesi vira ganância e ambição, que geram riqueza, poder, prazeres.
Fugazes, insatisfatórios, narcotizantes.
Sabemos agora do efeito nocivo desse coquetel porque a busca gerou egoísmo, orgulho e hedonismo: matrizes deste mundo caótico.
Violência, corrupção, rede de mentiras, ódio, assassinatos, geopolítica, libidinagem, jogos de poder, fanatismo...
Assim é o séc. 21 no planeta terra com seus 7 bilhões de habitantes.
Nem sempre fomos tantos. Nem sempre fomos assim. 
Será?



2.
A infância da humanidade transcorreu de modo particularmente lento para os padrões atuais.
Os homens já estavam presentes na Terra há 3,6 milhões de anos.
Se nos lembrarmos de que os dinossauros foram extintos há 64 milhões de anos, não parece muito tempo. Cosmicamente falando.
A partir de um evento revolucionário (talvez a habilidade de produzir fogo), a humanidade levou pelo menos 40 mil anos para transformar-se coletivamente, fazendo a primeira metamorfose civilizacional.
Por estarem submersos num ambiente natural de forças irracionais, hostil e obscuro, os homens pré-históricos interpretaram o universo através de signos e mensagens “divinas”. Viver era uma experiência mística de reverencia, admiração e humildade perante forças inexplicáveis.
É possível compreender a reverência com que viam os feiticeiros e xamãs que sabiam interpretar essas forças – supostamente atributos da vontade dos deuses. 
Alguns a chamam de “A Era dos Deuses”, em que, supostamente, os pajés, feiticeiros, oráculos e profetas teriam tido ajuda e inspiração dos deuses para profetizar e motivar a primeira metamorfose da sociedade humana – a longa e lenta transformação das aglomerações pré-históricas em sociedades organizadas.
Foi uma era de grandes avanços tecnológicos: arado, roda, domesticação do fogo, escrita, moeda de troca. Formaram-se os núcleos familiares; estruturaram-se núcleos sociais. Com ênfase no desenvolvimento técnico e utilitário, a humanidade organizou-se como civilização e começou a manter os registros de sua História por volta de 3.000 a.C., isto é há apenas 5.000 anos. (0)
O xamã, por dar sentido a fatos e acontecimentos aparentemente sem sentido, estava mais próximo da cibernética atual – pirotecnia para os sentidos, do que da cosmogonia medieval – contrita, racional e dogmática.
Com seus atributos mágicos o xamã alcançava as razões dos deuses e explicava o inexplicável. Oferecia fé e valentia aos primitivos para combater o medo. Dava-lhes uma razão para viver suas vidas miseráveis, resumidas em se matarem pela sobrevivência.
Em troca ganhava muito poder.



3.
Evoluímos da ameba ao homo sapiens sob a égide das leis naturais.
Seguiremos evoluindo até um estágio do qual, agora, não conseguimos fazer a menor ideia. Mas temos ideia de como é lento o nosso processo evolutivo. Então podemos fazer uma ideia do tempo que levaremos para alcançar o status de divindades. 
A primeira coisa que aprendemos ao nascer é respirar. E, de forma consciente ou inconsciente, não paramos de aprender até o momento do ultimo suspiro: a vida parece ser uma curta jornada de aprendizado.  E de tão breve a vida, uma pessoa não consegue internalizar muitas mudanças comportamentais de natureza incongruente (1)ao longo de uma existência biológica. (2)
Cada época histórica tem um conceito de homem. Isto é, a cada época a Sociedade estrutura-se por um conjunto de normas e valores que norteiam o modo de viver das pessoas. A esse conjunto de normas e  valores, chamamos Paradigma.
Se não fôssemos tão inteligentes e criativos como somos, talvez pudéssemos viver eternamente conforme determinado paradigma, sem questionamentos, como, por exemplo, as formigas, cujo modo de viver da “sociedade” dos formigueiros não parece ter passado por transformações radicais desde que surgiram na face da terra. (3)
Somos inteligentes e criativos. Se algo nos incomoda e nos deixa muito insatisfeitos, inventamos soluções.  Muitas dessas soluções, à primeira vista, não parecem ser grande coisa. Dizem por exemplo que o filtro de café, de papel e descartável, foi inventado pela vovó Melitta (4) porque ela não gostava de lavar o coador de pano. 
O grande impacto dessa invenção é o conceito de algo ser descartável.
Refletindo um pouco sobre isto, vemos que higiene e praticidade são coisas que saltam aos olhos, mas, algo descartável é algo que pressupõe desapego.  É claro que, no velório de uma vovozinha, ninguém iria dizer – “Ah! Ela era tão apegada a este coador... Tinha costurado com tanto carinho!” – mas a verdade é que ninguém se apega a alguma coisa que é descartável.
Assim, para o bem ou para o mal, o conceito – descartável – faz  parte do nosso atual jeito de viver. Fraldas descartáveis, copos e talheres descartáveis, chinelos, lenços,... e, opa!, pessoas?!
O tempo é uma coisa inexorável e fantástica; acaba nivelando o impacto das grandes e das pequenas invenções.  
Não podemos, hoje, imaginar uma rotina de vida sem luz elétrica e, embora nunca paremos para pensar, já nos acostumamos tanto à ideia do descarte que não nos surpreendemos muito quando um casamento se desfaz em apenas alguns meses, quando uma pessoa troca de carro a cada seis meses, quando um funcionário vai para o olho da rua, após quinze anos de dedicação à empresa...
Uma pessoa idosa, de personalidade conservadora – que não consegue incorporar muitos dados novos em seu sistema de atitudes – acharia que é um absurdo simplesmente descartar um funcionário antigo (ela diria “gente da casa”) porque até pouco tempo atrás, quando as empresas eram familiares, a maioria dos funcionários trabalhava na mesma empresa até aposentar-se (ou morrer), pois o relacionamento patrão-empregado era bem pessoal, em função, até, do tamanho das empresas.  Hoje, numa corporação transnacional com milhares de funcionários, não tem como evitar que o relacionamento empresa-funcionário seja tão impessoal como está sendo.       
Tomei dois exemplos (um, tecnológico – da invenção da luz e, outro conceitual – do conceito “descartável”) aleatoriamente, mas é possível pensar em dezenas de outros exemplos. 
Um processo de transição se inicia quando se acumulam algumas dessas “soluções” e invenções que introduzem mudanças de comportamento e hábitos no seio da coletividade. Dependendo do alcance e intensidade do processo, pode transformar completamente a estrutura social de uma civilização.
Podemos definir transição civilizacional como um longo período histórico em que dois universos sistêmicos de relações sociais diferentes coexistem não muito pacificamente. Ou, como um período de confluência de diversas mutações sociais, em meio a crises de todo tipo
Uma transição de âmbito generalizado, como a que estamos vivendo já há bastante tempo, provoca uma metamorfose civilizacional: transformação total da estrutura da sociedade e das relações humanas dentro dela, devido a mutações política, social, cultural e econômica, provocadas por variados e concomitantes processos de transição.
Para facilitar o entendimento do processo, lanço mão de conceitos matemáticos da teoria dos conjuntos (5), que trata das propriedades e relações entre conjuntos.
Em matemática, conjunto é uma coleção de elementos.
Muitas coisas compõem o nosso universo de vida: família, escola, religião, política, arte, cultura, saúde, ética, moral, trabalho, lazer, esportes, leis...
Vamos chamá-los elementos.
Esse conjunto de elementos, correlacionados por interdependência, pertinência ou ambivalência, forma o sistema de valores sustentador do tecido sociocultural de um ciclo da civilização.
Vamos chamá-lo Conjunto Universo.
 Pois bem, atualmente, a maioria de nós ainda conceitua a vida de acordo com uma coleção de elementos, cuja relação de interdependência formula um modo de vida próprio da Sociedade Industrial.  Vamos chamar a essa coleção de elementos pertinentes à sociedade industrial de CONJUNTO UNIVERSO INDUSTRIAL, representando os seus elementos com  quadrados cinzas, como na figura 1.





Notas da autora:
            0 – Em apenas 6.000 anos conseguimos destruir grande parte do que a Natureza levou milhões de anos para desenvolver.


      1 – Uma mudança incongruente exige extremo envolvimento psicológico, pois a pessoa renega a sua linha de comportamento anterior e passa a agir de forma completamente diferente e nova.

       2 – Esta é uma questão que fatalmente leva a considerações metafísico-religiosas como a existência ou não da alma, imortalidade do espírito, reencarnação,  criacionismo, evolucionismo científico, fé....
           
          3 – Apenas 3 a 5% dos seres vivos que habitam a Terra são capazes de se organizarem em sociedades. As formigas, assim como os homo sapiens, fazem parte desse seleto grupo.

           4 – Melitta Bentz, alemã, inventou o filtro de papel em 1908.

        5 – A noção de Conjunto é a trivial, que poderia ser coleção, classe ou sistema. Ao conceituar o Conjunto-Universo, a teoria dos conjuntos admite a existência de um conjunto ao qual pertencem todos os elementos de um determinado problema. No caso, estamos lidando com os elementos que fundamentam e sustentam os valores sociais das civilizações.


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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

INTUIÇÃO



Na minha infância, até pela formação católica, acreditei mais em diabinhos tentando me levar para o “mau caminho” do que em anjinhos me protegendo das coisas ruins.   O receio e a ameaça do iminente ato pecaminoso já fazia de mim um ser desprezível,  indigna até da misericórdia de Deus.
O fato do filho d’Ele estar pregado na cruz, morrendo em agonia, em nada ajudava: quem me protegeria de mim mesma; quem me salvaria de ser fraca e humana?
Nosso pensamento está sempre alerta; racionais, vivemos pela bússola do pensamento ativo.
Domingo passado tive uma ajudazinha dos anjos, comprovando o que ultimamente tenho intuído: os anjinhos protetores são mais presentes e constantes na minha vida do que os diabinhos.
Dar atenção ao que a intuição sugere é importante, mas o mais importante é fazer o que ela sugere.  E para isso precisamos calar o pensamento ativo que geralmente segue um fluxo diferente daquele sugerido pela contracorrente intuição. 
A modernidade classificou muitos tipos de inteligência. 
A que se quantifica pelos testes de QI, colocada no pedestal dos nerds e geeks, em minha opinião sem utilidade imediata na vida rotineira; a IE, inteligência emocional que, pelo contrário, nos ajuda a viver em harmonia com os próximos e com os próximos mais distantes; a IC, cinética, de sobra na raia dos atletas olímpicos por ex..
Desconfio que a intuição faça parte do universo do QS, Quociente Espiritual, do qual se fala com bastante frequência nesses últimos tempos. 
Na vida, coisa mais custosa é aceitar as divergências.
Começa simplesmente: “eu gosto do amarelo, mas gostas do rosa”. Termina complicando um pouco quando muda para “eu gosto do amarelo, mas como ousas gostar do rosa?”
Quando já começa complicado como num embate “democratas versus republicanos” pode-se chegar a grandes complicações: de “não quero mais conversa com você!” até “se queres guerra, guerra terás!”. 
O espelho nunca nos trai.
Não nega, não diverge, não blasfema.
Mas tem um defeito: é estagnado como água parada – o espelho do Narciso. 
É preciso seguir para o mar ancestral, rasgando o ventre da terra, contornando rochas, despencando por abismos, sedimentando margens, saciando sedes.
O mar é meu centro. É para onde carrego meu ser, meu quociente espiritual – que cresce a cada curva do rio.
 Um Quociente Espiritual bem desenvolvido não tem dificuldade em aceitar as divergências. É manso diante das diferenças. Respeitoso, complacente. No máximo, compadecido.
QS não tem a ver com religiosidade ou mistificação.
Tem a ver com ciência – física quântica.
Para a Física e Filósofa (por Harvard e MIT)  Danah Zohar, “a inteligência espiritual tem a ver com o que eu sou, com os meus valores”. Ela diz que precisamos alimentar essa inteligência para motivar a cooperação – entre a família, a comunidade, os países. E que só assim vamos encontrar soluções positivas para o planeta e vamos nos encontrar nessa busca também. 
Qualquer semelhança com o discurso de líderes humanitários, independentemente de religiões instituídas, não é mera coincidência.

11/09/2012
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terça-feira, 4 de setembro de 2012

VIDA, SUBSTANTIVO FEMININO - Chuva



CHUVA

ROÇAR O COLO NA JANELA
QUANDO O VENTO ENSAIA
ABRAÇOS NO VARAL:
TUA SOCIAL CAMISA
SENROSCANDO
NOS MEUS VESTIDOS.

O PAR DA JANELA
FECHO
COMO QUEM VEXA
PENSAMENTOS:
UM TOMATE SEM PELE
DANÇANDO NA MEMÓRIA.

QUE BOA CHUVA!
CAMISA E VESTIDO
MOLHADOS NO VARAL.

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VIDA, SUBSTANTIVO FEMININO - Cálice



CÁLICE

PERDI MEU MAR
NO CAMINHO DOS DIAS.
DILUO-ME SAL MAGRO
EM DIUTURNO SUOR.

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VIDA, SUBSTANTIVO FEMININO - Bagagem



 BAGAGEM

P/ Humberto de Almeida

Trouxe de minas: notável menino,
um  ar carregado de nova horta.
Plantar plantou: algum hino,
repicar de sinos, pólens ao vento.

Gladiador de borboletas, colheu
raso tronco, eco, distâncias.

Uma noite descobriu-se lembrança.
No meio da trouxa vinda de Minas
tateou cicatrizes de infância:
um quintal de terra e chuvas
a fundir seus passos de criança. 


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VIDA, SUBSTANTIVO FEMININO - Pensamento



PENSAMENTO

MEU PENSAMENTO É SONORO:
CONFUNDE BIOLOGIA COM BIOGRAFIA.

MAS CONFUNDIR A CARÍCIA NO OMBRO
COM A MALÍCIA DO HOMEM
QUE CONHECE OS RIOS DE MEU CORPO
NÃO É PENSAMENTO.
É PURA ORAÇÃO:
FIOS QUE TECEM MINHA BIOGRAFIA
ATÉ QUE A MORTE PERMITA
A TECELAGEM DA MINHA BIOLOGIA. 

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VIDA, SUBSTANTIVO FEMININO - Espírito de corpo




 ESPÍRITO DE CORPO

NEM  É  VETERANO  DE  GUERRA
E  ARRASTA  SUA  PERNA  COXA.

PENSO  NA  HUMILHAÇÃO  DO  CORPO.
NA  MULHER  QUE  NO  SEXO  NÃO  ACHA  PRAZER.
NA  RODELA  DE SUOR  EM  MANGA  DE  CAMISA.
NA  AVIDEZ  DO  CEGO  RENTE  AO  SOM.

PENSO  NA  IMPACIÊNCIA  DA  ALMA,
MARCENEIRO  SEM  PLAINA  NEM  FORMÃO,
DIFUSA  IDÉIA  NO  LIMBO  SEM  GRAMÁTICA,
PÁROCO  SEM  FIÉIS  PARA O SERMÃO.

MAIS  QUE  A  BELEZA
A DIGNIDADE  DO  TIGRE  É  A  SUA  FORÇA. 



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