6.
A coleta de pedras foi bem sucedida: voltaram para junto do bando carregados de obsidianas e sílex. A curiosidade era grande e quase todos do bando acorreram para recepcioná-los, com exceção dos caçadores e das mulheres coletoras de frutos e raízes, que estavam fora.
Curiosos, cercaram os Guardadores, atentos à movimentação de Ghideon.
A primeira providencia de Ghideon foi desfiar cipós para trançá-los como fortes cordas. Em seguida fez um martelo, usando a trança de cipós para amarrar uma pedra num pedaço de carvalho negro.
Ordenou que seus auxiliares fizessem o mesmo e, em seguida, dando pancadas com o martelo, mostrou como conseguir lascas de sílex e obsidiana. Alguns dos curiosos animaram-se e passaram a trabalhar junto, aprendendo o que Ghideon fazia por intuição. Ao entardecer, o bando tinha tacapes, machados, martelos, facas e facões em profusão.
As ferramentas foram distribuídas aos interessados em trabalhar na construção das moradias. Todos que ganharam facões e machados foram convocados para, no dia seguinte, coletar cipós e derrubar árvores.
Donga estava admirado com as invenções de Ghideon e sentia orgulho em ser um auxiliar do Guardador Chefe.
Jamal também estava admirado e satisfeito, já vislumbrando o futuro promissor do bando que chefiava. Ao fim dos trabalhos, Jamal, sempre seguido por Cyfron, aproximou-se de Ghideon.
- Muito engenhoso. Pensou tudo isso, assim, de repente?
Ghideon levantou os ombros, abriu um sorriso e, apontando para a própria cabeça, respondeu:
- É... De repente tenho tantas ideias aqui dentro que... Acho que não vai dar tempo de fazer tudo!
Jamal socou o braço de Ghideon demonstrando muita satisfação. Definitivamente, se dependesse dele e de Ghideon, Entrerrios teria um grande futuro!
7.
Zaphyra tinha passado a manhã toda coletando frutas na companhia de Kira e outras mulheres adultas. Quando chegaram de volta às margens do rio as mulheres viram os homens em animada atividade. Zaphyra, porém, viu mais. Logo atrás de Ghideon, como a inspirá-lo e protege-lo, havia um lindo e translúcido anjo. Além disso, quando Jamal se aproximou de Ghideon, Zaphyra viu um demônio de asas abertas saltitando ao redor de Cyfron. Amedrontada, deu um passo para trás, em ato reflexo.
Percebendo que Zaphyra podia vê-lo, o ser escuro arreganhou os dentes para ela e, rindo-se, baixou as asas para, em seguida, abri-las novamente enquanto arreganhava os dentes para o anjo protetor de Ghideon.
8.
Cyfron tinha muitos pesadelos recorrentes.
O suplício noturno sempre começava com ele vagando na penumbra por terras inóspitas e avermelhadas.
Galhos ressecados e trançados atrapalhavam sua caminhada.
Gemidos, lamentos e imprecações pairavam no ar, vindos de todo lado e ecoando pela paisagem cheia de árvores secas, muros destruídos e longínquas montanhas.
Então, seres horripilantes surgiam para persegui-lo, arreganhando dentes e garras pontiagudas. Gargalhavam maldosamente a cada vez que Cyfron tropeçava devido à irregularidade do chão ressecado.
Se caísse, eles guinchavam e babavam sobre ele, gritando coisas odiosas e clamando por vingança. Eram muitos e alguns deles pareciam crianças. Eram, invariavelmente, maltrapilhos, escuros e magérrimos. Apenas o líder deles, tinha um par de asas escuras, meio carcomidas e rasgadas.
Em desespero Cyfron choramingava por clemencia e, então, acordava coberto de suor e exalando o cheiro inconfundível do medo.
Afora isso – a sensação de pavor e do ódio deles atingindo seu ventre como murros – Cyfron não se lembrava de nenhum detalhe de seus pesadelos.
Ultimamente, porém, carcomido de inveja por Ghideon e corroído pelo orgulho ferido por estar sendo preterido por Jamal, Cyfron passou a buscar no íntimo de sí uma forma de se vingar e, pela primeira vez, identificou o clamor de seus perseguidores: vingança.
Ah, sim, arquitetaria uma vingança digna de sua esperteza! E o melhor: ninguém desconfiaria dele. Cacarejou um riso antecipado de prazer.
Acocorado sobre os ombros de Cyfron, o ser escuro também cacarejou.
A coleta de pedras foi bem sucedida: voltaram para junto do bando carregados de obsidianas e sílex. A curiosidade era grande e quase todos do bando acorreram para recepcioná-los, com exceção dos caçadores e das mulheres coletoras de frutos e raízes, que estavam fora.
Curiosos, cercaram os Guardadores, atentos à movimentação de Ghideon.
A primeira providencia de Ghideon foi desfiar cipós para trançá-los como fortes cordas. Em seguida fez um martelo, usando a trança de cipós para amarrar uma pedra num pedaço de carvalho negro.
Ordenou que seus auxiliares fizessem o mesmo e, em seguida, dando pancadas com o martelo, mostrou como conseguir lascas de sílex e obsidiana. Alguns dos curiosos animaram-se e passaram a trabalhar junto, aprendendo o que Ghideon fazia por intuição. Ao entardecer, o bando tinha tacapes, machados, martelos, facas e facões em profusão.
As ferramentas foram distribuídas aos interessados em trabalhar na construção das moradias. Todos que ganharam facões e machados foram convocados para, no dia seguinte, coletar cipós e derrubar árvores.
Donga estava admirado com as invenções de Ghideon e sentia orgulho em ser um auxiliar do Guardador Chefe.
Jamal também estava admirado e satisfeito, já vislumbrando o futuro promissor do bando que chefiava. Ao fim dos trabalhos, Jamal, sempre seguido por Cyfron, aproximou-se de Ghideon.
- Muito engenhoso. Pensou tudo isso, assim, de repente?
Ghideon levantou os ombros, abriu um sorriso e, apontando para a própria cabeça, respondeu:
- É... De repente tenho tantas ideias aqui dentro que... Acho que não vai dar tempo de fazer tudo!
Jamal socou o braço de Ghideon demonstrando muita satisfação. Definitivamente, se dependesse dele e de Ghideon, Entrerrios teria um grande futuro!
7.
Zaphyra tinha passado a manhã toda coletando frutas na companhia de Kira e outras mulheres adultas. Quando chegaram de volta às margens do rio as mulheres viram os homens em animada atividade. Zaphyra, porém, viu mais. Logo atrás de Ghideon, como a inspirá-lo e protege-lo, havia um lindo e translúcido anjo. Além disso, quando Jamal se aproximou de Ghideon, Zaphyra viu um demônio de asas abertas saltitando ao redor de Cyfron. Amedrontada, deu um passo para trás, em ato reflexo.
Percebendo que Zaphyra podia vê-lo, o ser escuro arreganhou os dentes para ela e, rindo-se, baixou as asas para, em seguida, abri-las novamente enquanto arreganhava os dentes para o anjo protetor de Ghideon.
8.
Cyfron tinha muitos pesadelos recorrentes.
O suplício noturno sempre começava com ele vagando na penumbra por terras inóspitas e avermelhadas.
Galhos ressecados e trançados atrapalhavam sua caminhada.
Gemidos, lamentos e imprecações pairavam no ar, vindos de todo lado e ecoando pela paisagem cheia de árvores secas, muros destruídos e longínquas montanhas.
Então, seres horripilantes surgiam para persegui-lo, arreganhando dentes e garras pontiagudas. Gargalhavam maldosamente a cada vez que Cyfron tropeçava devido à irregularidade do chão ressecado.
Se caísse, eles guinchavam e babavam sobre ele, gritando coisas odiosas e clamando por vingança. Eram muitos e alguns deles pareciam crianças. Eram, invariavelmente, maltrapilhos, escuros e magérrimos. Apenas o líder deles, tinha um par de asas escuras, meio carcomidas e rasgadas.
Em desespero Cyfron choramingava por clemencia e, então, acordava coberto de suor e exalando o cheiro inconfundível do medo.
Afora isso – a sensação de pavor e do ódio deles atingindo seu ventre como murros – Cyfron não se lembrava de nenhum detalhe de seus pesadelos.
Ultimamente, porém, carcomido de inveja por Ghideon e corroído pelo orgulho ferido por estar sendo preterido por Jamal, Cyfron passou a buscar no íntimo de sí uma forma de se vingar e, pela primeira vez, identificou o clamor de seus perseguidores: vingança.
Ah, sim, arquitetaria uma vingança digna de sua esperteza! E o melhor: ninguém desconfiaria dele. Cacarejou um riso antecipado de prazer.
Acocorado sobre os ombros de Cyfron, o ser escuro também cacarejou.
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