Já não te amo mais” – uma lâmina
machucaria menos.
Por que uma árvore cai assim,
enquanto se busca um regador para alimentá-la, afaga-la, amá-la? Por que lhe
recusava a sombra que, não se importava, até repartia com outros?
“Já não te amo mais” – uma gota
escorrendo pelos tímpanos, vagalhões, estrondo. Onde guardar esta mentira
anunciada de olhos baixados, como a esconder uma verdade guardada nas mãos
aflitas? Tremiam de fato os cílios longos, os lisos ombros?
Durante o demorado hiato,
nenhuma reação lhe ocorria.
Seu olhar ficou solto, varrendo
o corpo da amada.
Branca, branca, branca, olhos de
gata, ombros, joelhos. Amados joelhos apalpados. Ângulos de sábias pernas e
língua silenciosa.
O que faltava ao momento era o
recomeçar tempestuoso de um interlúdio; a sílaba tônica depois do hiato. Com
que cordas; com que vogal?
Restava chorar. Urrar. Matar.
Violentar. Violentar-se.
Conter-se, baixar o murro e
retirar-se depois de um último olhar em derredor da sala. Nítido, o vaso
arrumado com flores amarelas.
Não olharia para ela, que, de
sua imagem, a saudade se encarregaria de torná-la viva sempre que não quisesse.
Já à porta, perguntou: “Por
que?”
Hiato. Desta vez, seguido de um
clímax agudo: “Estou grávida.”
Antes ela não abrisse mão da
mentira dita de olhos baixados; antes se afligissem as mãos sobre o colo para
sempre.
Voltou e deixou-se cair sobre o
sofá macio.
“Você quer esta criança?”
Branca, branca, branca, mais
branca ainda fez que sim, que sim, que sim.
Àquela verdade ela não podia
fazer frente. Diante da condição de mulher, que sempre rejeitara, viu-se
impotente: ela era mais fraca ainda que a fraqueza da mulher que concebe.
A alegria da concepção era a
única coisa que não poderia oferecer à árvore.
Muda, levantou-se e apanhou a
bolsa. Alisou a saia, prega por prega, e saiu.
Todos os direitos reservados AKEMI WAKI
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