terça-feira, 19 de junho de 2012

GHIDEON DAS ESTRELAS - POST3

9.
Na manhã seguinte,  sob as vistas de um enciumado Cyfron, Jamal convidou Ghideon e Zaphyra para uma caminhada ao longo da margem do Rio do Fogo.
Caminharam a passos tranquilos, os homens acompanhando as passadas menores de Zaphyra, até onde todos do bando chamavam de “a cachoeira de baixo”.
Diferente da cachoeira que escondia a caverna do bando, a “de baixo” era enorme e as águas pareciam despencar para sempre, em estrondoso mergulho. A espuma e a névoa formadas pela violência da queda d’água mantinham os arredores da cachoeira permanentemente molhados.
Ao chegarem perto da cachoeira, depararam com lindos arco-íris enfeitando as bordas do rio em queda. As espumas pareciam pular ao redor dos arcos coloridos.
Depois de apreciarem o espetáculo por um tempo, empreenderam a volta e só então Jamal disse o motivo pelo qual os havia convidado para caminhar.
Jamal avaliou que Ghideon tinha descoberto um local muito privilegiado.
Disse também que decidiu permanecer no território entre os dois rios até morrer.Esperava que o bando o apoiasse e também fixasse raízes no local, mas não pretendia consultar ninguém mais além deles, Ghideon e Zaphyra.
O território se chamaria  ENTRERRIOS  e deveriam defende-lo com unhas e dentes. Assim, queria cercas para defender o seu bando e as moradias que iriam construir.
Ghideon concordou de pronto e idealizou uma aldeia cercada por altas paliçadas. Disse com firmeza:
- Teremos muito trabalho pela frente, mas pode ser feito.
Enquanto ouvia, Zaphyra viu a paisagem ao redor transformar-se em uma fortaleza grande e próspera. Viu grande movimentação de povos entrando e  saindo pelo portão do vilarejo, muitos homens armados, animais arrastando cargas, mulheres servindo bebidas e pães para homens sentados à mesa de tabernas. Previu um futuro que ela ajudaria a construir, mas apenas disse que deveriam fazer plantações nos fundos das moradias.
De volta à cachoeira de cima, adentraram o bosque,confabulando sobre o melhor local para as moradias.
Quando os sóis altearam a pino, eles haviam idealizado uma aldeia circular,com moradias circundando um pátio central. A moradia de Jamal seria a maior, mas não teria uma localização privilegiada devido à formação circular da aldeia.
Haveria hortas e pomares nos terrenos atrás das moradias e a paliçada formaria um cercado quadrado em volta da aldeia. O portão de entrada ficaria de frente para a margem do Rio do Fogo.
 Entreolharam-se satisfeitos principalmente com os laços de grande camaradagem e confiança que se estabelecera entre eles.


10.
A moradia de Jamal ficou pronta em cinco dias com quase todo o bando trabalhando na construção. À noite, comemoraram dançando em volta de uma grande fogueira ao ritmo de tambores. Comeram cervos assados e frutas silvestres até se fartarem. As mulheres serviram  uma bebida feita com o sumo de pequenas frutas amareladas. A bebida deixava quase todo mundo muito  alegre, apesar de alguns se excederem e se tornarem grosseiros e violentos.
Ghideon e Baelor tinham desenvolvido grande camaradagem  durante os dias que estiveram coletando pedras. Ambos eram solitários devido à natureza de suas tarefas junto ao bando – Guardador e Guerreiro – e não tinham família nem filhos.
Cambaleantes por causa da bebida caíram sentados perto do fogo, felizes por nada.
Cyfron que vinha se insinuando para Haggar já há algum tempo, aproveitou a noite de festa para beber na companhia dele e de Donga.
Presenteou Haggar com um tacape enfeitado com penachos e contas.
- Que os deuses te protejam e te tragam força.
Feliz, Haggar correu até Ghideon para exibir o tacape
enfeitado. Baelor, assim como Ghideon, manusearam o tacape, cheios de admiração.
Rindo à toa, ofereceram uma bebida, convidando Haggar para se juntar a eles.
De longe, protegido pelas sombras da noite, Cyfron  ficou a observá-los.
Haggar, assim como Baelor e Ghideon conseguiram beber só mais uma cuia: despencaram num sono largado, aquecidos e iluminados pela fogueira.


11.
Os dias se seguiam com muito trabalho para Ghideon que coordenava a construção da aldeia. A aprovação de Jamal e o respeito que o “fazedor de Fogo” inspirava no bando facilitavam o trabalho de Ghideon.
Depois de 30 dias, distribuindo tarefas para quase todos do bando, Ghideon tinha demarcado todo o território da aldeia, removido todas as árvores do perímetro e iniciado a construção da paliçada com os troncos das árvores derrubadas no local.
Também tinha demarcado as fundações e iniciado a construção de mais seis moradias.
O pátio central já estava limpo e pronto. Concebido para ser o local de reunião e festejos do bando, havia um grande círculo cavado bem no centro do pátio.
Sílex e obsidianas forravam o interior do buraco e pedras comuns formavam a borda do círculo: era o local onde as fogueiras seriam acesas para assar as caças nos dias de festa.


12.
Zaphyra coordenava a plantação de árvores frutíferas nos terrenos ao fundo das moradias já demarcadas, mas o trabalho progredia devagar porque era muito difícil encontrar mudas em estágio de replante.
As mulheres já tinham percebido que as mudas brotavam das sementes, mas foi Kira quem pensou em produzir mudas. Passou dias recolhendo as sementes que o bando largava na caverna.
 Delimitou um espaço de terra atrás da moradia onde vivia com Jamal e outras mulheres. Recolheu pequenas pedras das margens do rio e cercou o espaço onde enterrou as sementes, ordenadas conforme a fruta.
Pêssegos, laranjas, mangas, melões, milho e fruta-pão. Só mostrou para Jamal e Zaphyra quando as sementes germinaram muitos dias depois. Por decisão de Jamal, acabou responsável pela produção das mudas para todo o bando. Kira aceitou a incumbência com alegria, mas ficou apreensiva porque Jamal exigiu mais:
-“descubram como as frutas que não tem sementes como bananas e abacaxis se reproduzem.”


13.
Cyfron mostrou-se solidário e acompanhou Kira e Zaphyra na incursão pela floresta em busca de respostas para Jamal.
Três dias depois voltaram com pencas de banana e muitos abacaxis, mas nenhuma resposta para a pergunta de Jamal. Nem mesmo um palpite. Kira resolveu enterrar algumas bananas, na esperança de ver brotar bananeiras.
Cyfron desejou boa sorte e saiu à procura de Haggar.
Encontrou-o instalando altas forquilhas ao redor do círculo para as fogueiras. Convidou-o para uma excursão até a cachoeira.
- Ah, tá bom Cyfron. Falta pouco. Vou em seguida.
- E, não se esqueça, leve o tacape, vamos precisar.
- Pode deixar!

Haggar respondeu alegremente enquanto Cyfron dava-lhe as costas, caminhando em direção à margem do Rio do Fogo. 

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