As copiosas chuvas das últimas semanas têm rendido manchetes: todos os dias temos tido notícias de desmoronamentos, inundações, desalojamentos e mortes, desestruturando a pacata vida de muitos cidadãos, cujas casas são inundadas ou, pior, destruídas pela ação das águas.
O.K., nossos governantes não primam por cumprir suas obrigações como homens públicos, mas também há componentes que remetem à responsabilidade de cada um: consciência ecológica, cidadania e brio, ausentes na imprevidência da maioria dos atingidos.
O lixo urbano espalhado pelas ruas, a inacreditável quantidade de “bitucas” de cigarro jogadas no meio fio e/ou dentro das bocas de lobo das ruas centrais da cidade, entulhos, sofás jogados em beira de estrada são resultantes da atitude de pessoas que não se preocupam com o que acontece depois que se livram de seus lixos.
Li hoje uma reportagem animadora: Eunice, comerciante que mora em rua sem calçamento nem sistema de escoamento pluvial na Vila Princesa, cansada de retirar água e lama de sua casa, resolveu tomar providencias. Gastou do próprio bolso e construiu uma muralha na frente de sua casa, reforçando, por via das dúvidas, com dezenas de sacos de areia para impedir a invasão das águas. Não adiantou; as águas, insidiosamente, invadiram sua casa de novo. Determinada, não desistiu e contratou um profissional para limpar e nivelar a rua com um trator, corrigindo o desnível da rua e retirando os entulhos.
Ela diz: “Se a Prefeitura não age, a gente faz o que acha certo”.
Certo. E espero que Eunice, com isso, livre-se de mais inundações nas próximas semanas.
Há muito tempo venho colecionando recortes de notícias sobre atitudes similares que ocorrem de forma esparsa e espaçada. São ocorrências pontuais que me animam a lembrar de uma utopia maravilhosa: o Anarquismo.
Sou Anarquista com muito fervor. E gostaria de pensar que atitudes como a da Eunice sejam frutos de uma clara consciência anarquista.
Gostaria.
Em 2009 Obama ganhou o Nobel da Paz. Fato interessante e animador porque significa que houve mais pessoas que pensaram Obama como um símbolo das mudanças históricas em andamento.
Já os vencedores do Nobel de Economia daquele mesmo ano – Oliver Williamson e Elinor Ostrom – saíram do anonimato com trabalhos antenados com as referidas mudanças.
Que mudanças são essas?
São muitas e envolvem todos os segmentos sustentadores da estrutura social contemporânea: há décadas estamos vivendo um processo de transformação da sociedade; uma transição da era industrial para uma nova era, ética, iluminada e fraterna, com sistemas hierárquicos e governos diferentes, conceitos científicos e médicos diferentes e novas tecnologias colocadas a serviço do bem estar dos homens.
Idealmente, um mundo onde cada um cuida de si e de todos, sem o concurso de instituições de poder.
À luz de tudo isso, os trabalhos científicos de Elinor e Oliver, separadamente, corroboram uma tese: a de que a Sociedade, quando se mobiliza pensando o Coletivo, não precisa de governos nem de governantes.
Utopias são utopias, sei disso, mas posso acreditar que um dia, ainda que distante, a humanidade evoluirá até conseguir implantar um governo honesto, justo e interessado, não posso?
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