Escrever é como lançar luzes sobre um pensamento nebuloso e furtivo ou sobre uma emoção incipiente e fugaz. Pensamentos e emoções que só passam a existir de verdade depois que matuto e escrevo sobre eles.
Um psicanalista diria que pela escritura trago os assuntos do Inconsciente para o Consciente.
O dia a dia, a rotina de afazeres, a busca de resultados, as metas – são distrações cheias de ocorrências que desviam a nossa atenção do real espetáculo da vida.
Escrevendo, busco a “story line” desse real espetáculo; “story line” que inclui o meu próprio ato de escrever como tentativa de livrar-me do constante e premente incomodo de quase lembrar da essência da condição humana. Assim busco a poesia e o contato com o meu espírito livre porque me ajudam a entender. E, às vezes, o entendimento ilumina-me com uma claridade inconfundível. Em verdade uma claridade insuportável por mais que cinco minutos.
Entretanto, por humana, vez ou outra, penso em sucesso e fama. Penso: não seria formidável ser reconhecida nas ruas por desconhecidos que gostam do que escrevo? Seria fantástico ouvir alguém dizer: “Aquela frase mudou a minha vida!”.
Seria.
Dias atrás li num jornal os desabafos de um escritor.
Dizia que as editoras são mercenárias, que os concursos literários são fraudes com cartas marcadas (e a prova disso seria que os componentes do júri teriam que ler as centenas de obras concorrentes num curto período de tempo – insuficiente e humanamente impossível, na opinião do autor do desabafo). Dizia também que o escritor está fadado a não ter a alegria do reconhecimento público, mas que, apesar dos reveses, deve seguir perseverando porque o escritor é um artista.
Era isso em linhas gerais, só que com muito fel e ressentimento.
Depois de ler as quase mil palavras de rancor inconformado, fiquei com tudo à flor da pele – como quando penso na dura vida dos sem teto, na miséria de espírito do menino (saudável e forte) que esmola arrastando a perna esquerda para impressionar, na falta de consciência do político que rouba dinheiro de merenda escolar e também a verba de ajuda a desabrigados e coisas outras que afrontam minha fé na humanidade.
Sou de boa fé. Acredito em Editores idealistas. Ontem mesmo vi uma publicação maravilhosa, que certamente não está deixando o editor multimilionário – a Coleção Pensamentos e Textos de Sabedoria da Editora Martin Claret.
De qualquer forma, realisticamente, toda Editora precisa administrar faturamentos que permitam a sua sobrevivência.
Já fui jurada de concursos literários. Posso assegurar que podemos avaliar a qualidade de um texto apenas com a leitura de alguns parágrafos. Um texto bom é bom de forma homogênea, assim como o medíocre ou ruim o são de forma uniforme.
Concordo 100% sobre a perseverança, porque é com isso que levaremos o talento nato a excelência.
Já sobre a alegria do reconhecimento público, tenho 2 fichas: 50% para a água viva que, frágil, linda e translúcida, eletrocuta a sensibilidade; 50% para as pérolas, que, formadas na solidão das dores que se curam no interior de nosso ostracismo, brilham sua nobreza de modo discreto. E perene.
Criar águas vivas é muito divertido e prazeroso. Tudo flui na alegria da criatividade comprometida apenas com a ficção que vai preenchendo páginas.
Lamber feridas, feito ostra no fundo do mar de si mesmo, é doloroso e redentor.
A alegria da redenção não tem preço.
Mas estou pagando para nunca, nunca, virar ouriço.
todos os direitos reservados AKEMI WAKI
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