segunda-feira, 25 de junho de 2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

CARA VERSUS COROA


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JARDINAGEM


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À MARGEM


VELÓRIO


ÍDOLO


MEMÓRIA


terça-feira, 19 de junho de 2012

GHIDEON DAS ESTRELAS - POST3

9.
Na manhã seguinte,  sob as vistas de um enciumado Cyfron, Jamal convidou Ghideon e Zaphyra para uma caminhada ao longo da margem do Rio do Fogo.
Caminharam a passos tranquilos, os homens acompanhando as passadas menores de Zaphyra, até onde todos do bando chamavam de “a cachoeira de baixo”.
Diferente da cachoeira que escondia a caverna do bando, a “de baixo” era enorme e as águas pareciam despencar para sempre, em estrondoso mergulho. A espuma e a névoa formadas pela violência da queda d’água mantinham os arredores da cachoeira permanentemente molhados.
Ao chegarem perto da cachoeira, depararam com lindos arco-íris enfeitando as bordas do rio em queda. As espumas pareciam pular ao redor dos arcos coloridos.
Depois de apreciarem o espetáculo por um tempo, empreenderam a volta e só então Jamal disse o motivo pelo qual os havia convidado para caminhar.
Jamal avaliou que Ghideon tinha descoberto um local muito privilegiado.
Disse também que decidiu permanecer no território entre os dois rios até morrer.Esperava que o bando o apoiasse e também fixasse raízes no local, mas não pretendia consultar ninguém mais além deles, Ghideon e Zaphyra.
O território se chamaria  ENTRERRIOS  e deveriam defende-lo com unhas e dentes. Assim, queria cercas para defender o seu bando e as moradias que iriam construir.
Ghideon concordou de pronto e idealizou uma aldeia cercada por altas paliçadas. Disse com firmeza:
- Teremos muito trabalho pela frente, mas pode ser feito.
Enquanto ouvia, Zaphyra viu a paisagem ao redor transformar-se em uma fortaleza grande e próspera. Viu grande movimentação de povos entrando e  saindo pelo portão do vilarejo, muitos homens armados, animais arrastando cargas, mulheres servindo bebidas e pães para homens sentados à mesa de tabernas. Previu um futuro que ela ajudaria a construir, mas apenas disse que deveriam fazer plantações nos fundos das moradias.
De volta à cachoeira de cima, adentraram o bosque,confabulando sobre o melhor local para as moradias.
Quando os sóis altearam a pino, eles haviam idealizado uma aldeia circular,com moradias circundando um pátio central. A moradia de Jamal seria a maior, mas não teria uma localização privilegiada devido à formação circular da aldeia.
Haveria hortas e pomares nos terrenos atrás das moradias e a paliçada formaria um cercado quadrado em volta da aldeia. O portão de entrada ficaria de frente para a margem do Rio do Fogo.
 Entreolharam-se satisfeitos principalmente com os laços de grande camaradagem e confiança que se estabelecera entre eles.


10.
A moradia de Jamal ficou pronta em cinco dias com quase todo o bando trabalhando na construção. À noite, comemoraram dançando em volta de uma grande fogueira ao ritmo de tambores. Comeram cervos assados e frutas silvestres até se fartarem. As mulheres serviram  uma bebida feita com o sumo de pequenas frutas amareladas. A bebida deixava quase todo mundo muito  alegre, apesar de alguns se excederem e se tornarem grosseiros e violentos.
Ghideon e Baelor tinham desenvolvido grande camaradagem  durante os dias que estiveram coletando pedras. Ambos eram solitários devido à natureza de suas tarefas junto ao bando – Guardador e Guerreiro – e não tinham família nem filhos.
Cambaleantes por causa da bebida caíram sentados perto do fogo, felizes por nada.
Cyfron que vinha se insinuando para Haggar já há algum tempo, aproveitou a noite de festa para beber na companhia dele e de Donga.
Presenteou Haggar com um tacape enfeitado com penachos e contas.
- Que os deuses te protejam e te tragam força.
Feliz, Haggar correu até Ghideon para exibir o tacape
enfeitado. Baelor, assim como Ghideon, manusearam o tacape, cheios de admiração.
Rindo à toa, ofereceram uma bebida, convidando Haggar para se juntar a eles.
De longe, protegido pelas sombras da noite, Cyfron  ficou a observá-los.
Haggar, assim como Baelor e Ghideon conseguiram beber só mais uma cuia: despencaram num sono largado, aquecidos e iluminados pela fogueira.


11.
Os dias se seguiam com muito trabalho para Ghideon que coordenava a construção da aldeia. A aprovação de Jamal e o respeito que o “fazedor de Fogo” inspirava no bando facilitavam o trabalho de Ghideon.
Depois de 30 dias, distribuindo tarefas para quase todos do bando, Ghideon tinha demarcado todo o território da aldeia, removido todas as árvores do perímetro e iniciado a construção da paliçada com os troncos das árvores derrubadas no local.
Também tinha demarcado as fundações e iniciado a construção de mais seis moradias.
O pátio central já estava limpo e pronto. Concebido para ser o local de reunião e festejos do bando, havia um grande círculo cavado bem no centro do pátio.
Sílex e obsidianas forravam o interior do buraco e pedras comuns formavam a borda do círculo: era o local onde as fogueiras seriam acesas para assar as caças nos dias de festa.


12.
Zaphyra coordenava a plantação de árvores frutíferas nos terrenos ao fundo das moradias já demarcadas, mas o trabalho progredia devagar porque era muito difícil encontrar mudas em estágio de replante.
As mulheres já tinham percebido que as mudas brotavam das sementes, mas foi Kira quem pensou em produzir mudas. Passou dias recolhendo as sementes que o bando largava na caverna.
 Delimitou um espaço de terra atrás da moradia onde vivia com Jamal e outras mulheres. Recolheu pequenas pedras das margens do rio e cercou o espaço onde enterrou as sementes, ordenadas conforme a fruta.
Pêssegos, laranjas, mangas, melões, milho e fruta-pão. Só mostrou para Jamal e Zaphyra quando as sementes germinaram muitos dias depois. Por decisão de Jamal, acabou responsável pela produção das mudas para todo o bando. Kira aceitou a incumbência com alegria, mas ficou apreensiva porque Jamal exigiu mais:
-“descubram como as frutas que não tem sementes como bananas e abacaxis se reproduzem.”


13.
Cyfron mostrou-se solidário e acompanhou Kira e Zaphyra na incursão pela floresta em busca de respostas para Jamal.
Três dias depois voltaram com pencas de banana e muitos abacaxis, mas nenhuma resposta para a pergunta de Jamal. Nem mesmo um palpite. Kira resolveu enterrar algumas bananas, na esperança de ver brotar bananeiras.
Cyfron desejou boa sorte e saiu à procura de Haggar.
Encontrou-o instalando altas forquilhas ao redor do círculo para as fogueiras. Convidou-o para uma excursão até a cachoeira.
- Ah, tá bom Cyfron. Falta pouco. Vou em seguida.
- E, não se esqueça, leve o tacape, vamos precisar.
- Pode deixar!

Haggar respondeu alegremente enquanto Cyfron dava-lhe as costas, caminhando em direção à margem do Rio do Fogo. 

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

GHIDEON DAS ESTRELAS - POST 2

6.
A coleta de pedras foi bem sucedida: voltaram para junto do bando carregados de obsidianas e sílex. A curiosidade era grande e quase todos do bando acorreram para recepcioná-los, com exceção dos caçadores e das mulheres coletoras de frutos e raízes, que estavam fora.
Curiosos, cercaram os Guardadores, atentos à movimentação de Ghideon.
A primeira providencia de Ghideon foi desfiar cipós para trançá-los como fortes cordas. Em seguida fez um martelo, usando a trança de cipós para amarrar uma pedra num pedaço de carvalho negro.
Ordenou que seus auxiliares fizessem o mesmo e, em seguida, dando pancadas com o martelo, mostrou como conseguir lascas de sílex e obsidiana. Alguns dos curiosos animaram-se e passaram a trabalhar junto, aprendendo o que Ghideon fazia por intuição. Ao entardecer, o bando tinha tacapes, machados, martelos, facas e facões em profusão.
As ferramentas foram distribuídas aos interessados em trabalhar na construção das moradias. Todos que ganharam facões e machados foram convocados para, no dia seguinte, coletar cipós e derrubar árvores.
Donga estava admirado com as invenções de Ghideon e sentia orgulho em ser um auxiliar do Guardador Chefe.
Jamal também estava admirado e satisfeito, já vislumbrando o futuro promissor do bando que chefiava. Ao fim dos trabalhos, Jamal, sempre seguido por Cyfron, aproximou-se de Ghideon.
- Muito engenhoso. Pensou tudo isso, assim, de repente?
Ghideon levantou os ombros, abriu um sorriso e, apontando para a própria cabeça, respondeu:
-  É... De repente tenho tantas ideias aqui dentro que... Acho que não vai dar tempo de fazer tudo!
Jamal socou o braço de Ghideon demonstrando muita satisfação. Definitivamente, se dependesse dele e de Ghideon, Entrerrios teria um grande futuro! 


7.
Zaphyra tinha passado a manhã toda coletando frutas na companhia de Kira e outras mulheres adultas.  Quando chegaram de volta às margens do rio as mulheres viram os homens em animada atividade.  Zaphyra, porém, viu mais.  Logo atrás de Ghideon, como a inspirá-lo e protege-lo, havia um lindo e translúcido anjo. Além disso, quando Jamal se aproximou de Ghideon, Zaphyra viu um demônio de asas abertas saltitando ao redor de Cyfron. Amedrontada, deu um passo para trás, em ato reflexo.
Percebendo que Zaphyra podia vê-lo, o ser escuro arreganhou os dentes para ela e, rindo-se, baixou as asas para, em seguida, abri-las novamente enquanto arreganhava os dentes para o anjo protetor de Ghideon.


8.
Cyfron tinha muitos pesadelos recorrentes.
O suplício noturno sempre começava com ele vagando na penumbra por terras inóspitas e avermelhadas.
Galhos ressecados e trançados atrapalhavam sua caminhada.
Gemidos, lamentos e imprecações pairavam no ar, vindos de todo lado e ecoando pela paisagem cheia de árvores secas, muros destruídos e longínquas montanhas.
Então, seres horripilantes surgiam para persegui-lo, arreganhando dentes e garras pontiagudas. Gargalhavam maldosamente a cada vez que Cyfron tropeçava devido à irregularidade do chão ressecado.
Se caísse, eles guinchavam e babavam sobre ele, gritando coisas odiosas e clamando por vingança. Eram muitos e alguns deles pareciam crianças. Eram, invariavelmente, maltrapilhos, escuros e magérrimos. Apenas o líder deles, tinha um par de asas escuras, meio carcomidas e rasgadas.
Em desespero Cyfron choramingava por clemencia e, então, acordava coberto de suor e exalando o cheiro inconfundível do medo.
Afora isso – a sensação de pavor e do ódio deles atingindo seu ventre como murros – Cyfron não se lembrava de nenhum detalhe de seus pesadelos.
Ultimamente, porém, carcomido de inveja por Ghideon e corroído pelo orgulho ferido por estar sendo preterido por Jamal, Cyfron passou a buscar no íntimo de sí uma forma de se vingar e, pela primeira vez, identificou o clamor de seus perseguidores: vingança.
Ah, sim, arquitetaria uma vingança digna de sua esperteza! E o melhor: ninguém desconfiaria dele.  Cacarejou um riso antecipado de prazer.
Acocorado sobre os ombros de Cyfron, o ser escuro também cacarejou.

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